Por Daniel Cerveira*
Como a maioria dos setores econômicos do Brasil, a pandemia de covid-19 impactou fortemente o franchising, que se reinventou, acelerando a digitalização dos negócios (a Lei geral de Proteção de Dados Pessoais contribuiu neste sentido), experimentando novos formatos e explorando como nunca todos os canais existentes para chegar ao consumidor.
As projeções da ABF — Associação Brasileira de Franchising atestam que no final de 2021, o faturamento do setor atingiu os níveis de 2019, bem como que, diariamente, são abertas 25 unidades franqueadas em nosso país.
Hoje, não temos projeções específicas para o setor de franquias referente 2022. Os levantamentos divulgados no final do ano passado para o varejo apontavam o crescimento de cerca de 1% neste ano. A plataforma EMIS do Grupo ISI Emerging Markets emitiu relatório recente prevendo 3,8% de aumento de vendas do varejo brasileiro para 2022. Quanto ao segmento de “food servisse”, fortemente afetado pela pandemia, de acordo com estudo da ABIA — Associação Brasileira da Indústria de Alimento, a perspectiva para 2022 é uma elevação no faturamento entre 15% a 20%.
Vale lembrar que a última projeção do PIB do Brasil está em 1% positivo segundo Banco Central e 0,3% conforme o FMI.
Um ponto a ser destacado é o expressivo avanço do e-commerce. Conforme dados da Sondagem do Comércio, efetuada pela Fundação Getúlio Vargas, as vendas realizadas por meio do comércio eletrônico representavam 21,2% do faturamento total do varejo em 2021, contra 9,2% no momento anterior à pandemia de Covid-19. Os especialistas defendem que esta é uma realidade que veio para ficar e tomar mais mercado.
Observamos no ano passado movimentos de consolidações no mercado. Agentes do setor dizem que ainda existe espaço para mais fusões e aquisições no varejo e, portanto, no setor de franquias. Ademais, igualmente permanece aquecido o mercado de IPOs, com franqueadoras em processo de abertura de capital.
O atual alastramento da ômicron é uma dificuldade no curto prazo e aumenta o sentimento de incerteza para o futuro, muito embora os elementos não indicam que os entes governamentais determinarão novo lockdonwn. Por outro lado, a crise macroeconômica e o desemprego tornam as franquias atrativas, especialmente as chamadas microfranquias, em vista de suas vantagens, tais como, modelo de negócio testado, baixa taxa de mortalidade, marca consolidada, entre outras. Além do mais, em razão da crise, há muitas oportunidades de trespasse de unidades franqueadas.
Neste ano alguns desafios continuarão a existir, como as constantes negociações com os locadores dos pontos comerciais e shopping centers, inflação alta que afugenta o consumidor, dificuldades no fornecimento, restrição de crédito e alta nos custos fixos. Felizmente as pequenas empresas no regime do simples serão atendidas em programa de regularização de tributária, cuja aderência deverá ocorrer até 31 de março de 2022.
Por fim, uma tendência para os próximos anos é uma maior preocupação das redes com compliance, aliada aos conceitos de ESG — preocupação ambiental, social e governança.
Daniel Cerveira é advogado, sócio do escritório Cerveira, Bloch, Goettems, Hansen & Longo Associados Advogados Associados.
Artigo publicado: Diário do Poder, 27 de janeiro de 2022